sexta-feira, 5 de março de 2010

Campanha da Fraternidade 2010

Organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, a Campanha da Fraternidade 2010 é ecumênica e convoca brasileiros a debater “Economia e Vida”.

“Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão”.

Criada pela Igreja Católica em 1964, a Campanha da Fraternidade de 2010 é ecumênica, a exemplo do que ocorreu em 2000 e 2005. Neste ano as Igrejas do CONIC propõem uma reflexão sobre o sistema econômico vigente no país, inspirada no versículo bíblico “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24)

O objetivo exige que haja justiça social, consciência ambiental, sustentabilidade, empenho na superação da miséria e da fome e, de um modo geral, que se considere com atenção especial, a dignidade da pessoa e o respeito aos direitos humanos.

O objetivo da Campanha é mostrar para a sociedade que a vida tem que estar em primeiro lugar e que o ganho de capital – o lucro do dinheiro – só faz sentido quando está a serviço da construção de um mundo melhor e mais digno para todos. Educar as pessoas, mostrando que este novo modelo econômico é possível.


A Campanha deste ano também estabelece dois pilares fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa: a dignidade humana e a solidariedade.

O Texto Base faz uma análise da economia do país e insiste que ela deve estar a serviço da vida. “A economia não é uma estrutura autônoma. Ela faz parte das prioridades políticas. As políticas econômicas e as instituições devem ser julgadas pela maneira delas protegerem ou minarem a vida e a dignidade da pessoa humana, sustentarem ou não as famílias e servirem ao bem comum de toda a sociedade”, diz o texto em seu parágrafo 26.

Denunciar a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte.

Educar para a prática de uma economia de solidariedade, de cuidado com a criação e valorização da vida como o bem mais precioso.

Conclamar as Igrejas, as religiões e toda a sociedade para ações sociais e políticas que levem à implantação de um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas.

Não será uma tarefa fácil. Numa sociedade na qual o dinheiro e a acumulação de bens se tornaram um valor primordial e um objetivo pessoal, falar em distribuição de riqueza e bem comum pode aparentemente não fazer sentido.

Vivemos a vida como uma dádiva, que devemos estender a todos de forma incondicional.


Há valores que, devido à sua natureza, não se podem nem se devem vender e comprar.

Não somos mercadoria, e nossa vida não depende dos bens que possuímos.

“Não é pelo fato de um homem ser rico que ele tem a vida garantida pelos seus bens”.

Não somente recebemos a vida de graça, mas dependemos uns dos outros. Constituímos a “família humana”, única e rica na sua grande diversidade. Nascemos para conviver.

Somos responsáveis por nossos irmãos e irmãs, seja qual for o lugar onde vivem, perto ou longe de nós.

Cada pessoa tem o direito fundamental à vida e, portanto, o direito a todas as coisas necessárias para uma vida de qualidade.

As pessoas têm direito a viver e a satisfazer as necessidades básicas. Essas não consistem apenas em alimentação, vestuário e moradia, mas também educação, saúde, segurança, lazer, garantias econômicas e oportunidades de desenvolver todas as capacidades de que uma pessoa é dotada.

Recebemos os bens para a vida e não a vida para a riqueza. Toda a vida econômica deveria ser orientada por princípios éticos.

Que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados?


O consumismo é fortemente induzido pela propaganda. Formou-se uma mentalidade de que quanto mais se consome mais se tem garantias de bem-estar, de prestígio e de valorização, já que na atualidade as pessoas são avaliadas pelo que possuem e não pelo que são.

“O teste da verdadeira organização de um país não é o número de milionários que possui, mas a ausência de fome em sua população” (Ghandi).

No entanto, num mundo onde as pessoas clamam cada vez mais pela paz, o Texto-Base alerta para o fato de que qualquer paz é ilusória quando o interesse econômico sacrifica pessoas, cria desigualdades inaceitáveis e acaba se transformando num ídolo que governa a vida da sociedade.

É necessário que alertemos as pessoas para o fato de que este não é o único modelo econômico a ser seguido. Na verdade, são os próprios seres humanos que realizam essas atividades econômicas e as direcionam para a satisfação de interesses particulares.

Nossa atitude diante do dinheiro mostra muito o tipo de pessoa que somos. Por isso Jesus diz: “Onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teu coração” (Mt. 6, 21).

Precisamos mostrar que a economia pode assumir uma outra face, adquirindo um caráter mais humano, orientado para servir às pessoas, que são o verdadeiro centro e razão de ser da vida econômica e social.

A maneira como são atendidos os órfãos, as viúvas e os estrangeiros é apresentada na Bíblia como termômetro da fidelidade do povo em relação a Deus. Naquela sociedade, órfãos, viúvas e estrangeiros eram os próprios símbolos do desamparo. Hoje, além deles, deveríamos incluir os meninos de rua, os migrantes, os sem renda e outros tantos. Se esses não são atendidos, nosso culto a Deus é vazio.

As igrejas precisam fazer perceber que ser servidor do Reino não é só orar, é também testemunhar os valores do Evangelho.

Precisam resistir à tentação de transformar o culto a Deus em moeda para obtenção de prosperidade. O cristão é um servidor, não alguém que recorre a Deus em busca de favores.

Assim, as Igrejas são comunidades excelentes para formar pessoas que promovam uma nova educação, capaz de romper com as desigualdades de classe, gênero, raça e etnia, combater a discriminação, cuidar do planeta, valorizar o respeito à dignidade humana e incrementar as capacidades de diálogo e cooperação.

Todas as Igrejas são chamadas a meditar internamente sobre como elas se relacionam com os bens materiais e o dinheiro. Estes bens estão a serviço do Reino ou da própria instituição?

“Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”, é direcionado a cada um em particular e também às organizações religiosas, em geral.

Hoje, como no passado, as comunidades cristãs devem se interrogar sobre seu patrimônio, o uso que fazem do dinheiro e seu compromisso com a transformação econômica e social do País, e da nossa sociedade em particular.

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